Do mistério de Dar es Salaam
02/04/2009
É difícil saber como começar a descrever Dar es Salaam.
Poderia falar da sua arquitetura, que mescla os estilos árabe, inglês e alemão, refletindo o seu histórico de dominação por esses povos.
Ou poderia falar da gente que habita a cidade hoje: indianos, árabes, chineses e, claro, africanos – entre os últimos, há inclusive integrantes dos Masai, tribo guerreira que vive nas savanas entre a Tanzânia e o Quênia. (Esses Masai vêm a Dar es Salaam para vender ervas medicinais e, depois, voltam para o mato).
Poderia ainda falar dos seus sons – o grasnido perturbador e incessante dos corvos, misturado ao chacoalhar de moedas e ao som de beijos lançados ao ar, como os vendedores ambulantes, em permanente movimento, se fazem notar. (A esses sons, acrescentem-se ainda, ao amanhecer e ao anoitecer, os dramáticos cantos dos muezins, que do alto dos minaretes convocam os muçulmanos às orações.)
Mas esmiuçados todos esses detalhes, a descrição de Dar es Salaam continuaria pobre.
Porque a cidade encerra uma complexidade que torna a tarefa de descrevê-la das mais delicadas.
Quero entender o seu funcionamento; quero saber como povos tão diferentes conseguem conviver sob as mesmas regras.
No entanto, essas respostas me escapam, e perdido nos seus corredores labirínticos, vejo um corvo pousar ao meu lado, sabendo que, através do seu grasnido, a cidade inteira zomba de mim.
O que mais me intriga em Dar es Salaam é a intensidade com que aqui se dá a relação Ocidente-Oriente – uma relação ao mesmo tempo promíscua, conflituosa e, em alguns casos, até impossível, mas que, por alguma razão, não mais resulta em guerras ou matanças.
Talvez a explicação para isso – e possivelmente esse seja o único caminho para entender Dar es Salaam – tenha a ver com o comércio.
Comércio que borbulha em cada canto da cidade e está na sua origem, pois Dar es Salaam já foi um importante centro mundial de venda de escravos, ouro, marfim e especiarias.
E comércio que reduz árabes, indianos, africanos e chineses a simples compradores e vendedores, fazendo com que todas as suas diferenças sejam resolvidas pechinchando.
Genial. Descobri o teu blog no Pé na África e desde então tenho lido tudo com afinco. Ótimos textos, meio jornalísticos e literários.
Continue viajando e escrevendo que eu continuarei lendo!
Ola, Maikon. Vi o link la no seu blog. Obrigado!
Abracos
cada dia me surpreendo mais com essa áfrica. e cada dia me surpreendo mais com esse fellet.
Oi! Nossa, teu blog é deliciooooooso! :D Da pra me imaginar nessa cidade :D eheeh
Onde tu morava aqui no Brasil? :D
Bjos! E boa viagem!
Oi, Gabriela, valeu por acompanhar o blog!
Eu moro (morava?) em Sao Paulo, e eh pra la que volto quando a viagem terminar.
bjs
Amigo João,
A primeira vez que fui pra Luanda ficava vendo o nome Dar es Salaam no mapa do avião e pensando: deve ser demais! Esse texto tá fantástico, como sempre.
Paulinho
Incríveis seus relatos de uma África tão distante e ao mesmo tempo tão encantadora. Acho que eu tinha a mesma impressão que vc teve… só de ler o nome Dar es Salam me dá vontade de conhecer esta cidade. Boa sorte pra vc e continuarei daqui, acompanhando sua viagem! Abraços
Obrigado, Marco. Seja bem-vindo!
abracos